sábado, 10 de março de 2012

Minha forma de entender saúde

       Conceituar saúde é tarefa difícil, pois é algo complexo e abrangente, que nos remete a vários momentos históricos e ao desenvolvimento científico da humanidade, englobando diversos aspectos e dimensões, que vão desde a satisfação das necessidades básicas do indivíduo, como: alimentação, habitação, saneamento básico, salário digno, maior investimento na educação e saúde, o direito ao lazer e sono, até políticas públicas e espiritualidade, para assim, poder realmente entender a subjetividade deste tema. Tais aspectos têm gerado muita discussão e polêmica, porque até a algum tempo a saúde era definida como apenas ausência de doenças e o homem estudado através da visão reducionista. Com o surgimento do conceito criado pela OMS, que a define como sendo: "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades", iniciou-se um olhar diferenciado, considerando outros aspectos, no entanto este conceito tende a utopia, e ser saudável parece algo inatingível e distante. Fato esse compreendido quando levamos em consideração que existe uma dinâmica no universo e estamos em contínuo processo de evolução, daí conceitos fixos, estáticos, padronizados, enraizados, como por exemplo: certo/errado, feio/bonito, normal/anormal, saudável, feliz, etc. são relativos e depende do referencial,  como nos explica à física, como também, dos conceitos, valores e significados atribuídos por cada indivíduo, resultantes do seu mundo interior, ou seja, do que você é e acredita. Não estou afirmando que conceituar é desnecessário ou que não tenha importância, pois, precisamos de parâmetros, mas, acima de tudo temos que manter a mente aberta, sem rótulos ou preconceitos, para nos adaptarmos as mudanças, ao novo e buscar conhecimentos oriundos de todas as direções, pois não existe verdade absoluta. É deixar o homem velho morrer para o novo nascer.
          Para mim, conceituar saúde hoje, dentro deste contexto tão heterogêneo e amplo é falar de um homem multidimensional, inclusive a dimensão energética como nos explica a física quântica que revoluciona velhos conceitos quando afirma que somos energia condensada e como tal influenciamos e somos influenciados por ela! Ou seja, um desafio que exige como já falei mudanças profundas, olhar holístico e mente aberta.
     Esse olhar nos leva a reavaliar qual é o verdadeiro papel do profissional da saúde? Pois é neste contexto que iremos atuar e promover saúde,entre teorias e práticas reais, dificuldades e limitações e desarticulação entre ambas.
           Acho que saúde é algo a ser conquistado diáriamente, e é de total responsabilidade de cada indivíduo, através do autocuidado, autoconhecimento, autoenfretamento, autoestima, escolhas, posturas diante dos acontecimentos, pensamentos, emoções, energias, autorespeito e ética, durante toda a sua existência, o que não é algo tão fácil, mas possível de ser feito, quando passamos a compreender que todo esse processo: adoecer/saúde, depende de posturas diárias do próprio indivíduo, sendo ele o ator principal da trama da sua própria existência. No entanto, esse fato não isenta a responsabilidade da sociedade como um todo e dos órgãos governamentais, pois muito embora as doenças e curas iniciem-se por atitudes errôneas da própria pessoa, ela está dentro de um contexto social, sofrendo influencias dele e regida por leis tanto materiais, quanto divinas. Logo, concluímos, que o papel do profissional de saúde é limitado, ele é co-autor da saúde, um educador e como tal terá a consciência de que não é o agente direto de promoção de saúde no processo doença/cura, mas um mediador que fornecerá as ferramentas para que o próprio “paciente” se apodere deste processo e assuma sua responsabilidade. Muito embora isso assuste e vá de encontro a todo que nos ensinam. Basta vivenciarmos e observarmos o poder e influência que temos neste processo, tanto positivamente, quanto negativamente, quando utilizamos nossos pensamentos, emoções, sentimentos e energias em nosso cotidiano e nas relações com o outro e conosco, desencadeando cura ou doenças. Por exemplo, as respostas e alterações orgânicas são diferentes quando cultivamos raiva, ódio, mágoas, ressentimentos, para as emitidas quando estou em harmonia comigo, com o ambiente, com o outro.
       Então o perfil do profissional desta área, também terá que ser amplo. Em minha opinião ele deverá ter uma “Para-formação”, isto quer dizer que, terá a responsabilidade ética de ser alguém sensível, aberto, comunicativo e espiritualizado. Munindo-se de conhecimentos oriundos de todas as direções, desde os ditos científicos, o senso comum e suas experiências quanto ser humano. Ter humildade e autoconhecimento suficientes para compreender de forma holística e espiritualizada o seu papel real, pois irá lidar com pessoas, em momento de dor, perda e incapacidades, lidará freqüentemente com diferenças de crenças e formas de pensar e perceber o mundo, com pacientes terminais, etc. Então essa interação e comunicação humana, feita de forma honesta, farão toda a diferença no tratamento. Seu papel não se limita a executar técnicas ou procedimentos e sim propor cuidados abrangentes, presentes em todas as ações realizadas com o paciente, seja para orientar, informar, apoiar, confortar ou atender suas necessidades básicas, despertando nele a compreensão de que é ele o principal responsável por si e sua saúde.
                Atualmente, na formação acadêmica ainda percebe-se algumas contradições e deficiências, por exemplo: Ausência de uma formação realmente humanizada, holística e espiritualizada, ou seja, não existem disciplinas específicas, que abordem mais profundamente estes temas, sem vínculos religiosos e sem preconceitos. Como o profissional da saúde irá praticar essas posturas no seu cotidiano, se ele só aprende definições superficiais, que não lhe fortalecem emocionalmente para lidar com o sofrimento do outro, com a dor, com a morte? Em muitos casos ele não aprendeu isso nem na sua vida pessoal! Pois se trata também de uma maturidade espiritual que não se adquire comprando na esquina ou em uma cadeira da universidade.
            No entanto ao se abrirem mais espaços para estes conhecimentos o profissional descobrirá através da experiência a necessidade de cuidar de sua própria saúde, de se autoconhecer, de se auto observar e compreenderá que a doença é um estado de desequilíbrio entre sua essência e personalidade, então utilizará técnicas para sua autocura, aprendendo também a desenvolver a compaixão, elemento fundamental para a tão falada e polêmica, “humanização”. Outro aspecto é a comunicação. Desenvolvendo a habilidade de comunicação o profissional da saúde poderá ter acesso ao universo intrínseco do paciente e compreende-lo holisticamente. Por intermédio dos vínculos estabelecidos, o trabalho da profissional é ampliado e atingirá suas metas, beneficiado ainda mais a ambos: Profissional e paciente.
         Então essa formação multidimensional, lhe dará ferramentas para essa nova forma de ver a saúde e igual receita de bolo que deverá ter os ingredientes corretos e adequados, seguindo uma seqüência de passos para se obter o resultado esperado: um delicioso bolo, o profissional do campo da saúde necessita em sua formação acadêmica dos seguintes ingredientes:

Ampla formação acadêmica (muitas gramas) - para que se torne alguém reflexivo, crítico, ético, espiritualizado, consciente do seu papel, conhecedor dos direitos políticos, sociais e econômicos do cidadão, adquirindo preparo para gerenciar os entraves e mesmo com eles e apesar deles, promover saúde!

Uma boa pitada de bom humor – para manter sua própria saúde e bem-estar;

Visão holística (bastante) – para compreender o individuo em sua totalidade, valorizando todos os aspectos intrínsecos e extrínsecos a ele;

Doses generosas de comunicação – para estabelecer um relacionamento interpessoal com o seu paciente e equipe de trabalho;

Uma consciência humanizada (pode exagerar neste ingrediente) – que inclui uma postura ética e indo mais longe, cosmoética;

Autoconhecimento – (a gosto) o profissional deverá buscar formas de se conhecer e se auto-equilibrar, seja através de psicoterapias, ioga, meditação, ou outras formas que lhe agrade, para que mantenha sua saúde e saiba lidar melhor com suas emoções, prestando melhor serviço;

Ter uma mente aberta (várias xícaras) – se fixar apenas em teorias e práticas e crenças pessoais, muitas vezes limita o profissional. “Padronizações rígidas impedem o cuidar de forma contextualizada e orientada por modelos que ampliem o leque de variáveis que devem ser consideradas na compreensão do complexo processo saúde-doença-cuidado”.

Ser educador e mediador de saúde;

E como ingrediente indispensável e final - deverá amar o que faz!  - do contrário, não flui. O bolo não desenvolve.

Depois é só misturar tudo e você terá um excelente profissional da saúde!

             Trazendo para a Terapia Ocupacional mais especificamente, porque sou estuddante, todos estes ingredientes acima citados compõem o trabalho deste profissional, que lida diretamente com algo muito subjetivo que é o fazer humano, a ocupação, considerando o seu significado e contexto, como elementos indispensáveis para a sua compreensão e através do resgate da independência e autonomia do indivíduo, que mesmo mediante incapacidades e limitações, poderá ter seu potencial desenvolvido e se apoderar novamente de sua vida, o Terapeuta Ocupacional promoverá a saúde e reabilitação dentro deste perfil que falei, despertando no outro a consciência que poderá ultrapassar barreiras, sendo apenas necessária uma reorganização de suas atividades de vida diária (AVD) com o apoio das tecnologias assistivas, do próprio T.O e outros recursos.
           Quando se compreender o verdadeiro sentido do processo: doença/saúde e não apenas sua definição, o papel do profissional será ampliado de ajudar a alguém, ou combater a doença para SERVIR a humanidade.
           Finalizando quando penso em um conceito de saúde lembro o Dr. Edward Bach, quando diz:
"A saúde é uma herança nossa, nosso direito. É a completa e total união entre alma, mente e corpo e isso não é um ideal longínquo e difícil de alcançar, mas tão simples e natural que muitos de nós o negligenciamos."
                                                                                               Eliane Serpa.





Acupuntura na Terapia Ocupacional